Caro amigo leitor,
O estudo do carma é bem complexo, principalmente porque há muitas distorções em cima dos conceitos elaborados pelas diferentes doutrinas que estudam o assunto.
Há uma espécie de estratificação popular nas idéias de que tudo o que se refere ao carma, seja com conotação de purgar algum pecado ou pagar alguma dívida desta ou de outra vida.
Isso ocorre porque o termo carma é oriundo do sânscrito "karma", que significa ação ou causa. Toda ação gera sua reação correspondente. Toda causa gera seu efeito compatível com a ação executada. Logo, na concepção original da expressão, carma é todo ato executado pela consciência.
Como cada movimento é manifestação da vontade que anima o ser e contém certa energia para colocar em ação tal movimento, pode-se dizer que cada ato carrega em si a sua própria repercussão latente. A ação desdobrará naturalmente sua reação correspondente. A causa acarretará seus efeitos inexoravelmente.
Obviamente que não há nenhuma moral nisso, é apenas a natureza e suas leis, manifestando-se em todos os planos de manifestação.
A concepção oriental original disso é sempre no sentido neutro do termo. Não há nenhuma noção maniqueísta de bem ou mal nisso, apenas a natureza e seu curso óbvio. Porém, muitas doutrinas orientais cristalizaram o conceito de carma como uma espécie de fatalismo do qual não se pode escapar, algo como o conceito ocidental de "destino".
Entretanto, quando se diz que o carma é inexorável, é sempre no sentido de que toda ação gera sua reação correspondente. Isso é uma lei da natureza. Nada tem a ver com conceitos humanos de destino ou de que alguém não possa interagir coerentemente com isso e até reverter muitas situações.
A consciência pode mudar seu rumo de vida usando a mesma vontade que a levou aos atos anteriores que geraram as repercussões que lhe perseguem agora, basta mudar o padrão do que pensa, sente e faz na existência.
Mudando a vibração, muda-se a condição, como já ensinavam os antigos hermetistas egípcios. Isso não é fácil e demanda tempo e esforço, muitas vezes ao longo de várias vidas, mas é o caminho para vencer a roda de samsara**.
** Roda de samsara = ciclos reencarnatórios
Por volta do século XIX, quando o termo carma passou a ser utilizado no Ocidente como expressão de causa e efeito (inicialmente por teosofistas e espíritas e depois por quase todos os espiritualistas, até tornar-se nos dias atuais uma expressão quase popular), houve uma forte influência dos conceitos cristãos de culpa e pecado em cima do conceito original hinduísta. Isso fez com que o termo carma passasse a ser considerado como algo referente a pagar alguma coisa ou a queimar dívidas anteriores da vida atual ou de outras vidas.
Resumindo: do conceito naturalista de carma ventilado pelos antigos sábios hindus, as diversas doutrinas do Oriente e do Ocidente (por motivos diferentes, mas entranhadas no mesmo equívoco de que não se pode mudar as condições cármicas presentes) formataram noções de culpa e punição e adequaram isso aos seus discursos doutrinários bolorentos e defasados em relação à naturalidade das coisas.
Além disso, o carma virou uma espécie de ameaça velada utilizada por muitas pessoas. Alguns dizem assim: "Não me vingarei, pois o carma há de punir tal pessoa". Ou algo assim: "Tal pessoa está ferrada. O carma irá puni-la severamente. Ela padecerá de um monte de coisas ruins, pois o carma não perdoa".
Ora, baseado nos conceitos da Física moderna, sabemos que matéria é energia condensada e que energia é matéria em estado radiante. Logo, tudo é energia em graus variados de densidade. Seja um grão de areia, um planeta ou uma pessoa, tudo é expressão da mesma energia. O que varia é sua densidade e o nível de sua manifestação.
Na natureza [ manifestada!] tudo é relativo. Por isso, é possível mudar e gerar causas e climas melhores na existência, para que estes mudem as circunstâncias e revelem novas oportunidades.
Mudando o jeito e a expressão, novas causas serão geradas e engendrarão novos efeitos correspondentes. As energias sempre seguem o padrão da ação e isso determina a qualidade dos efeitos.
Wagner Borges)
fonte http://ippb.org.br/textos/508-o-karma-e-suas-leis
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