.OKEY CABOCLO!

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OKEY CABOCLO!

06/08/2015

A Umbanda e a Minha Umbanda






[ Antes do texto, deixo declarado que a Umbanda que meu coração aceitou foi a UMANDA SAGRADA, ensinada pelo saudoso Pai Rubens Saraceni, meu Pai, na Umbanda; mas minha percepçao e compreensão não se limita ao que ele ensinou, sobre Umbanda.

Aceito e abraço como irmãos, na Umbanda, todas as demais formas com a qual Ela se apresente. Todos têm conhecimentos, e a mim, são bem vindos!

Fora da Umbanda aceitos todas as pessoas como irmãs, filhas do único Criador. ]



Esse é um artigo diferente dos demais que costumo postar, porém senti a necessidade em publicá-lo nesse espaço para dirimir algumas dúvidas e posicionar quais são os pilares que sustentam o que escrevo. Recebi alguns comentários sobre o artigo Amoralidade de Exu e percebi que não cabia uma resposta curta, pois seria muito simplista de minha parte dizer “Porque sim!” em algo que precisamos ir mais a fundo.¹

Meus conhecimentos a respeito de Umbanda se baseiam em cima de muito estudo, mas o mais importante é a vivência que tenho desde muito cedo na senda espiritualista, principalmente a própria Umbanda.

Atuo trabalhando em um terreiro de Umbanda tradicional já há alguns anos, o mesmo terreiro que acolheu meus familiares e onde os mesmos puderam desenvolver suas mediunidades e trabalhar como “cavalos” ou “soldados” de Umbanda.

Esse terreiro já conta com mais de cinquenta e sete anos de existência, tendo sido fundado pelo padrinho Nelson Rodrigues e passado – após seu desencarne – ao comando de seus filhos Neusa, José Antônio e Nivia. Veja que são mais de cinco décadas de trabalhos ininterruptos na Umbanda.

Nesta casa aprendi muito mais com os próprios guias e com a vivência mediúnica, porém não é toda a minha base. Apesar de possuir os encontros de estudo e desenvolvimento mediúnico, eu sempre senti uma grande atração pela forma que o espiritismo aborda o ensino e a investigação. Meu lado racional – sou uma pessoa da área de exatas na formação acadêmica – me levou a procurar a doutrina de Allan Kardec, então posso dizer que durante muitos anos estive militando dentro do Espiritismo dito “kardecista”.

Todo esse preâmbulo é para contextualizar o que vou escrever abaixo.

Eu citei no texto algumas coisas contrárias a doutrina da Umbanda Sagrada, fundamentada pelo médium Rubens Saraceni, a respeito de Exu. Questionado fui então de onde tirei as informações que publiquei e como eu poderia questionar o mestre Rubens Saraceni.

Bom, o que quero dizer é que apesar de ler grande parte da obra do Rubens Saraceni, eu mesmo não sou adepto da Umbanda Sagrada. Eu aprendi de forma diferente, de forma tradicionalista e as informações vêm da tradição a qual faço parte.

Infelizmente o que vejo é uma guerra de vertentes, uma tentando desmerecer a outra. A Umbanda Sagrada tem uma teologia própria, que não é a que eu acredito, pratico e vivencio. Mas em nada a desmereço, aliás, esta possui algumas fundamentações e termos que são bem colocados, para explicar melhor as atuações de certas energias e os pilares de certas práticas na Umbanda como um todo.

O texto em si explica por si só então não vou ficar “re-explicando” sobre a minha visão de Exu e sobre o que os próprios citaram durante o tempo de prática mediúnica nos diversos médiuns da minha casa.

O Rubens Saraceni foi um médium, sacerdote, mago iniciador da Magia Divina e criador da doutrina de Umbanda Sagrada, porém não é a única voz na Umbanda. Existiram vários autores e praticantes antes dele, vários livros – tenham conceitos errados ou não, na época era o correto na visão desses autores e também o que era praticado.

E é isso que é incrível na Umbanda, não existir essa centralização faz com que a mesma seja adaptada conforme as egrégoras menores que são geradas, mas todas respondendo a uma mesma egrégora maior. Aliás, estudando mais a fundo outras religiões similares, a cada dia mais eu contesto sobre a criação da Umbanda pelo Zélio Fernandino de Morais.

Acredito realmente que ele a organizou como é, mas a raiz dela é muito anterior, não surgiu do dia pra noite e tem muita história a ser contada. Se tiver com dúvida sobre isto, sugiro que procure o artigo do Professor Doutor Ronaldo de Salles Senna²: Jarê, a religião da Chapada Diamantina e também seu livro: Jarê, uma face do Candomblé. Vocês irão se surpreender com as semelhanças que possui com o culto umbandista. Então podemos citar sim, que a origem vem de uma espécie de Candomblé de Caboclo, mas ainda não era a UMBANDA.

O que eu fico muito preocupado é com o embrutecimento intelectual que se gerou no meio umbandista.

Escolhemos um lado, uma vertente e um autor e o defendemos com todas as armas, porém nunca paramos para perguntar se realmente aquilo é o certo.

Apenas aceitamos como tal, pois alguém anterior disse que era escrito por uma referência do meio.

Mas, me pergunto: Onde está nossa evolução intelectual nisso? Cadê a liberdade de raciocínio? Aceitar cegamente qualquer coisa que nos dizem, por mais bem fundamentada que esteja é um retrocesso evolutivo.

Cito aqui que o mesmo ocorreu dentro do Espiritismo, Allan Kardec utilizava-se do CUEE (Controle Universal dos Estudos Espíritas) para dar como verídica alguma informação, que foram publicadas posteriormente no pentateuco Espírita.

Há isso na Umbanda? Não, tampouco no espiritismo moderno. Chico Xavier é tido como um dos grandes baluartes do Espiritismo, se não o mais importante desde Kardec, porém mesmo em suas obras existem coisas contrárias a Doutrina Espírita e existe um segmento ortodoxo que refuta todas as suas obras por ela não passar pelo referido CUEE.

Não tenho nada contra a Umbanda Sagrada, nem com a Umbanda Esotérica e nem com a Iniciática, com o Omolokô ou outras vertentes, porém a prática que eu aprendi e que funciona para mim é a tradicional. E nem podemos dizer que é tradicional como o Zélio deixou, pois usamos atabaques não é?

Temos várias pessoas aqui no Conversa Entre Adeptus que escrevem sobre Umbanda Sagrada, como o Cristiano Trevelino e o próprio PH Alves. Eu escrevo sobre a Minha Umbanda³, a Umbanda da Casa que trabalho, logo, é claro que ela não será em todo compatível com a doutrina do Saraceni.

Isso invalida qualquer das vertentes? Não! Mas essa guerra de “MINHA VERTENTE TÁ CERTA E A SUA NÃO”, essa sim, destrói todas as bases da Umbanda. Parafraseando o Caboclo das Sete Encruzilhadas:

“Com os Espíritos evoluídos, aprenderemos,
Os menos evoluídos, ensinaremos,
Mas a nenhum renegaremos.”

Não se deixe prender nos grilhões do comodismo, muitas vezes a mudança só vem com o incômodo e não é porque acreditamos em algo que aquilo é verdadeiro ou correto. Pode ser para você, mas nem sempre será para todos.

Observação: A Umbanda de cunho popular e tradicional era a mais aceita nos primórdios da Umbanda, depois sofrendo mutações e sendo “taxada de incorreta” pelos seguidores da Umbanda Esotérica do W.W. da Matta e Silva, posteriormente esse sendo dado como incorreto pelos seguidores da Umbanda Sagrada e por fim, pode-se dizer que muitos dizem o mesmo da Umbanda Sagrada.

Isso é só uma questão de reflexão, onde o mais atual – nem sempre na figura do fundador ou fundamentador da vertente – tenta desqualificar a vertente anterior para dar mais destaque a sua própria.

Dentro das diversas polêmicas há a questão da origem da Umbanda, da Ancestralidade da mesma, do significado do seu nome e da grafia, dos povos que originalmente a cultuavam, das sete linhas de umbanda e também do próprio panteão de Orixás cultuados. Minha recomendação é: “Se você tá feliz aonde está, continue.”

¹ Curiosamente essa reação só ocorreu no artigo postado no Conversa Entre Adeptus. Esse mesmo texto já havia sido postado no meu blog pessoal e a recepção ao mesmo foi diferente.

² Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia e Doutor em Antropologia pela USP, é professor aposentado de Antropologia da Universidade Federal da Bahia e Professor Titular da Universidade Estadual de Feira de Santana. É autor, entre outros trabalho, do livro Jarê, uma face do candomblé (Feira de Santana, UEFS, 1998) e membro da Academia Feirense de Letras.

³ Umbanda que traz muitas semelhanças com a Umbanda Tradicional fundamentada pelo Zélio, mas com fortes influências populares e também próprias das vertentes de nação que eram cultuadas pelos “Babás” que formaram o Padrinho Nelson. Dentro das curiosidades está o não uso de velas pretas, bebidas alcoólicas e a proibição do sacrifício e uso se sangue ou carne animal em oferendas.


POR DOUGLAS RAINHO
http://perdido.co/



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