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29/02/2012

MAIAS: OS "CAÇADORES DE ESTRELAS"






Quando se fala na civilização maia, pensa-se imediatamente em seus conhecimentos nos campos da arte, arquitetura, escrita e, sobretudo, da matemática e da astronomia, pois foi justamente nos dois últimos domínios que seu gênio se exprimiu de forma mais assombrosa.

Durante a época clássica (300-900), os astrônomos maias estabeleceram uma medida do tempo e calendários mais precisos que qualquer outro disponível no mundo até então.

Sem instrumentos de medição do tempo, eles conseguiram calcular os movimentos da Lua, dos planetas do sistema solar e das estrelas fixas, cálculos hoje efetuados com ajuda de telescópios eletrônicos e computadores. Sua inteligência inventou o sistema de contagem longa, de 373.444 anos.

Isso lhes dava a perspectiva do ilimitado, mas também possibilitava determinar o ciclo do planeta Vênus, que eles calculavam ser de 584 dias - os cálculos modernos fixam a duração em 583,92 dias.

Mas quem eram esses astrônomos e quais as suas motivações? Como demonstram diversos glifos (elementos da escrita) gravados nas pirâmides, assim como códices (textos escritos em materiais diversos), a observação dos corpos celestes era realizada, provavelmente, por "sacerdotes-astrônomos" da elite religiosa.

Segundo o bispo espanhol Diego de Landa, que em 1549 viajou para a península do Yucatán, berço dos maias, os "senhores-serpentes" se ocupavam da ciência, da astronomia, dos calendários, da matemática, escreviam suas observações em códices, aconselhavam governantes e presidiam os ritos públicos.

Entre eles, achavam-se os ahaukin, sacerdotes do Sol, que também podiam se ocupar da astronomia.

Havia ainda os chahom, que queimavam o copal (tipo de incenso feito de resina vegetal). Por fim, os nacomes eram encarregados dos sacrifícios rituais aos deuses.

Por surpreendente que possa parecer, todas essas descobertas astronômicas eram o fruto da mera observação visual. Ao longo de várias gerações, a atividade do firmamento foi registrada cotidianamente por sacerdotes.

Souberam, assim, que cometa ou meteorito passou tal dia; em que momento houve um eclipse; onde se achava a constelação de Órion durante o solstício de verão; quando Vênus ficou visível.

Uma coisa é certa: eles eram dotados de muita inteligência e, especialmente, paciência, como se pode ler em uma passagem a respeito da criação do mundo tal como a relata o Popol-Vuh (Livro do conselho ou Livro da comunidade):

"Em Tulan Zuiva, aonde chegaram, eles observaram um jejum perpétuo enquanto esperavam a chegada do nascer do Sol.

Revezavam-se para observar a grande estrela Noh Ek, também denominada Icoquih, a que surge antes do Sol quando este está prestes a nascer".

Em parte, essas observações eram favorecidas pelo clima de Yucatán: seco, com um céu noturno límpido. Além disso, a topografia da região ajudava: uma terra plana, sem nada para obstruir a visão.

Pelos códices e glifos gravados nos templos, sabe-se que os maias utilizavam um instrumento de visão elementar: varas cruzadas.

Foram descobertos observatórios em numerosos sítios arqueológicos onde estão hoje o México e a Guatemala: Chichén-Itzá, Mayapán, Tulum, Palenque, Uaxactun, Tikal e El Mirador.

O "caracol" da cidade de Chichén-Itzá, assim denominado devido à escada em espiral, é o mais representativo observatório maia, com seus terraços recuados, suas aberturas em ângulos e sua "câmara alta" com seteiras de observação.

Pesquisas demonstraram que a primeira abertura de observação fornece a direção sul; a segunda dá para o ocaso da Lua no dia 21 de março; a terceira indica a direção oeste e o pôr-do-sol nos equinócios (quando o dia tem a mesma duração da noite) de 21 de março e 21 de setembro - também é possível observar o poente solar no solstício de verão, em 21 de junho.

O sítio de Tulum também possui um observatório chamado “caracol”. Lá se encontraram seteiras astronômicas similares às de Chichén-Itzá.

Tulum é uma palavra que significa “muralhas”, mas outrora a cidade, em frente ao mar do Caribe, se chamava Zama, que quer dizer alvorada ou aurora.

Essa planta de orientação era indispensável aos astrônomos para realizar o cômputo do tempo e estabelecer calendários. Mais recentemente, os pesquisadores presumiram que, nesse mesmo lugar, os maias observavam o nascer de Vênus.

Pode-se constatar que, na maioria dos sítios cerimoniais, nada foi construído ao acaso: todas as pirâmides e templos são orientados para seguir o percurso dos astros. Assim, certas pirâmides se tornam “calendários de pedra”.

O exemplo de Chichén-Itzá é flagrante. No grande sítio cerimonial encontra-se a pirâmide de El Castillo ou Templo de Kukulcán.

Têm quatro lados, cada qual com um a escada de 91 degraus. Ao se multiplicar 91 por 4, tem-se 364. Soma-se 1, correspondente à plataforma de acesso ao templo, e se obtêm os 365 dias do calendário solar.

Outro fenômeno único da mesma pirâmide: no momento dos equinócios de primavera e de outono, o Sol projeta sete sombras triangulares no lado esquerdo dela, formando o corpo de uma serpente, que se une à cabeça esculpida no pé da escada.

Essa construção é interpretada pelos arqueólogos como referência ao deus Kukulcán, a “serpente emplumada”.

A paixão dos maias pela astronomia mostra sua obsessão pelas idéias de morte e renascimento. Queriam saber tudo de seu destino.

Estabeleceram um calendário preciso essencialmente com fins astrológicos. Pode-se falar em uma verdadeira “astrologia divinatória”. Os maias liam o futuro nas constelações.

Assim, tendo o céu como guia, certas datas eram consideradas mais favoráveis que outras para efetuar um ritual, entronizarem um rei ou organizar uma batalha.

Outras, ao contrário, eram tidas como nefastas. Daí a necessidade de estabelecer um calendário “divinatório” preciso. Alguns glifos fazem referência a esse vínculo entre a posição dos astros e um fato importante.

Outro motivo para estudar o firmamento era o desejo dos mais de dominar as forças da natureza. As necessidades da agricultura estimularam as observações astronômicas e, portanto, meteorológicas.

Era necessário prever os períodos de chuva, a fim de dispor a cultura de iúca, mandioca, jacatupé, feijão e milho.

O primeiro calendário desenvolvido foi o lunar. Depois se criou o solar e, por fim, a “contagem longa”. Enquanto os sistemas que registravam a passagem dos dias, semanas e meses serviam para regular a vida cotidiana e a religiosa, a contagem longa marcava os momentos importantes da história.

Baseando-se principalmente na observação do Sol, da Lua e de Vênus, os maias criariam três calendários complementares:
Um ritual e divinatório, de 13 meses de 20 dias, chamado Tzolkin, de caráter cerimonial ou premonitório (os sacerdotes o utilizavam para saber se um dia era auspicioso ou nefasto);
Um solar de 18 meses de 20 dias, chamado Haab, com 360 dias mais cinco dias nefastos;
Um atrelado ao ano venusiano, de 584 dias.

O sistema da contagem longa consistia em medir o tempo a partir de uma data inicial, o ano de 3114 a.C. do nosso calendário. Essa data está associada, segundo a mitologia maia, à criação do Universo e ao quarto sol, o 4 Ahau.

A era do quarto sol gerou o homem a partir do milho. A data, 3114 a.C., correspondia ao nascimento de um casal primordial, conforme uma inscrição gravada em uma parede do Templo da Cruz Folhada, em Palenque.

*Texto de Martine Pedron, com redação de Márcia Ledur. 

http://www.luzdaserra.com.br/1928/maias-os-cacadores-de-estrelas/

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