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11/02/2017

Ditadura da Felicidade







Pudéssemos decifrar o que se passa na mente das pessoas, certamente ficaríamos surpresos com o que nos seria revelado. Como não temos essa prerrogativa, mantemo-nos apenas no plano da imaginação e deixemos que as especulações escorram em nosso pensamento.

Estamos nós vivendo sob o regime ditatorial da felicidade? O motivo da minha indagação nasceu da conversa descontraída que tive com uma amiga há alguns dias.





Esta questão já me intrigava há algum tempo e nossa conversa só me fez perceber que não estava sozinho em minhas ruminanças. Pois bem, mas o que vem a ser esse tal regime?

O que seria a ditadura da felicidade? O fato é que vivemos um tempo em que as pessoas têm exigido muito delas mesmas. Não se permitem falhar.





A ordem do dia é se mostrar feliz, ainda que o coração esteja em pedaços. Mesmo que a dor seja quase insuportável, é preciso estampar um sorriso no rosto e não basta… É necessário mais…

Todos precisam saber que sua vida está a mil por hora e que seu mundo é pura felicidade. As redes sociais são uma boa prova disso.

Praticamente todos já amanhecem tão felizes e satisfeitos com a vida, que me pergunto se tudo isto é mesmo real ou se estas pessoas não estão vivendo no mundo da fantasia.





Mesmo que esta prática seja inocente e despretensiosa, o resultado de tamanha insensatez é que isso está provocando uma onda de adoecimento, talvez sem precedentes na história da humanidade.

Os mais incautos, que não têm o discernimento e a compreensão de que se trata de situações irreais, acabam entrando em parafuso.

Eles não conseguem compreender como podem ser infelizes em meio a um mundo cor de rosa, onde todos estão sempre alegres e consequentemente mergulham naquele que talvez seja o grande mal do século: A depressão.

O problema não acaba por aí. Os novos deprimidos também não podem ficar de fora da onda. Eles também são filhos de Deus e também precisam mostrar ao mundo que estão bem, que estão felizes e lá se vão para as redes sociais ou para a ilha da fantasia, como queiram.





Está estabelecido o efeito dominó… Está decretado o regime ditatorial da felicidade.

Sob tal regime é proibido sermos pessoas normais, com os problemas normais de qualquer ser humano que ainda somos.

Proibido difundirmos nossas tristezas e nossas mazelas. De demonstrarmos nossas fraquezas e nossas melancolias. Não pretendo com essas palavras, declarar guerra àqueles que estão verdadeiramente felizes e esbanjam seus belos sorrisos nas redes sociais, tampouco, proclamar a república da infelicidade.

Mas, sinceramente, penso que seria mais saudável se as pessoas fossem mais autênticas e demonstrassem aquilo que, de fato são, e não o que elas gostariam que fossem, ou pior, o que os outros querem que elas sejam.






CARLOS ROCHA


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