Sua “bença” e licença, Mãe!
Trouxe flores, mas não trouxe balaio de vime, bambu, nem palha ou cipó. Sou eu, de carne e osso. Não carrego champanhe ou mimos mundanos, mas lavei bem a alma antes de sair de casa. Perfumei cada cantinho do meu espírito pra vir aqui Te ver. Sei o quanto a Senhora ama receber Suas visitas assim!
Decorei o canto dos meus lábios com as flores da felicidade, que feito balões de festa, repuxam as extremidades para cima e não paro de sorrir.
Essas flores são tão frágeis e levinhas, a Senhora sabe bem; mesmo de longe sei que esteve lá me ajudando a cultivá-las e a retirar as ervas daninhas. Elas não resistem à água do mar, não é mesmo?
Calcei meus pés com a determinação, presente que ganhei da senhora! Lembra que me disse que ela me levaria a qualquer lugar? No começo sentia um desconforto, ou melhor dizendo, medo. Mas com o passar do tempo percebi que o tal medo era só uma pedrinha ali no meio. Joguei fora e agora vou aonde quero!
Esta roupa aqui é uma novidade: costurei um pouquinho de cada um que passou por mim nesses doze meses. Pensei que ficaria algo retalhado e infantil, mas veja, é tão colorida que parecem até seus peixinhos e corais! Penso que como o tecido, as vidas também se costuram, e tudo que nos acontece, de bom ou de ruim, fica marcado, pintado ou manchado em nós, pelo tempo que permitirmos.
Como perdoei meus desafetos e pedi perdão pelos meus escorregões; a roupa está brilhando, novinha em folha, do jeito que a senhora gosta! Claro que há um borrão ou outro, assim como alguns furos, dos vazios que me foram feitos esse ano, pela saudade dos que se foram, por opção ou não.
As outras pessoas não conseguem perceber muito bem, pois o conjunto todo ofusca um pouco essas imperfeições. Mas sei que a senhora, com os olhos sobrenaturais de toda mãe, já viu tudo. Obrigada, por sempre me lembrar que por mais que os outros não vejam, o que está errado precisa ser consertado!
Gostou das flores? São brancas iguais às Suas pérolas, e à espuma das Suas ondas.
Sabe, Mãe… Durante o ano, em meio à correria e aos momentos em que não tive tempo de vê-la, o coração doía, como quem estivesse sendo afogado.
A saudade apertava tanto, que meu único alívio era quando a água salgada transbordava pelos meus olhos, me lembrando um pouquinho do teu mar que também habita em mim. Nessas horas, a tempestade passava, a paz chegava, e mesmo transbordando, sentia o colo teu.
A paz veste branco, Mãe. E essas flores são de gratidão pela paz nos momentos difíceis, pela paz nos momentos de euforia, pela paz nos momentos de alegria também.
Agora estou aqui, com os pés na areia quente e macia, enquanto a espuma brinca com eles, risonha.
Ao passo que sinto-me pequena e indefesa, confirmo que não haveria qualquer outro lugar na Terra que preferiria estar. Se Deus nos deu um pedacinho do Céu, não há dúvidas de que está no mar.
Mas, também, não tenho dúvidas que está em nosso Ori, o Guia dos homens, preparado, equilibrado e amparado, pelas mãos da Senhora, minha Mãe Yemanjá!
Thais de Oyá
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- ODOYÁ, IEMANJÁ!
A VOSSA BENÇÃO MÃE AMADA!
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